sábado, 27 de julho de 2013

MAÇONARIA DE POBRES

Sou maçom há quase 40 anos. Minha opção por uma Obediência maçônica que crê em Deus foi acertada. Achei na Maçonaria Glória do Ocidente do Brasil a prática ritualística adequada a minha convicção teísta-cristã. Essa crença cristã me foi transmitida pelos meus pais desde a tenra infância. Hoje estou na Fonte da Vida, uma igreja abençoada. Por essas causas a minha vida espiritual é boa. A orientação filosófica do Rito York do Brasil - composição literária bela e definitivamente focada no Deus de Israel - é cristalina.
Maçonaria não é religião porque ela não prega a salvação da alma, característica principal das religiões. O sistema maçônico pode ser resumido assim: “Uma escola peculiar de moralidade, velada em alegorias e ilustrada por símbolos”. Nessa definição de maçonaria a moral, a ética é a cristã do amor ao próximo. A maior parte das alegorias e dos símbolos maçônicos foi retirada da Bíblia, a palavra revelada de Deus.

A instituição maçônica não tem um Poder Central, mas suas leis, universais e imutáveis, permitem a livre escolha filosófica de seus Obreiros. Portanto, quem deve decidir a filosofia maçônica é o candidato a maçom quando é convidado. Mas, como essa escolha filosófica não é um prato mostrado ao candidato antes da iniciação ele entra sem saber o que vem depois. Ao contrário da maioria, antes da minha iniciação eu perguntei ao meu padrinho, José Borges da Silva, se a maçonaria na qual eu ia ingressar acreditava em Deus. Diante da resposta positiva eu aceitei o convite do amigo. Assim foi que começaram os meus primeiros passos na Glória do Ocidente.

O rito York do Brasil tem uma estrutura pedagógica inspirada no Livro da Lei Sagrada. Todos os códigos morais, leis, constituições e estatutos, principalmente no mundo ocidental, estabelecem direitos e deveres retirados da Bíblia. Na maçonaria existem ritos com formações diferentes, inclusive para ateus: o Rito Francês ou Moderno. Outros ritos ficam em cima do muro na sua fé. Um dos modelos conhecidos no Brasil com essa prática é o Rito Escocês. E essa escolha da Loja gera uma confusão dos diabos. Por causa da desinformação e da ignorância de alguns, a maçonaria continua sendo alvo do fundamentalismo religioso irracional.
Na instituição maçônica também existem os fundamentalistas que se acham melhores do que as religiões. Por sorte é a minoria. Digo mais: teísmo, deísmo e ateísmo, ou agnóstico - como querem os intelectuais - são situações recorrentes na vida de todos. Inclusive dentro das igrejas católicas, protestantes ou espíritas – só para mencionar as religiões mais difundidas no país – onde o nível de crença pessoal modifica de acordo com o estado mental do indivíduo. Em momentos de turbulência interior é natural a fé se enfraquecer. Talvez seja por essa causa que muitos se afastam das igrejas. E também das Lojas quando o maçom percebe que não tem força espiritual para prosseguir na caminhada.

Graças a Deus que a minha fé é firme. Deus é o meu melhor companheiro. Esta convicção é forte o suficiente para rejeitar qualquer conceito humano de negação da fé ou de dúvidas de que Deus é a causa do mundo. Este conceito reforça a minha crença em suas obras maravilhosas. Assim, estou em permanente estado de Graça. E meus passos seguem rumo ao desconhecido, porém, seguro nas mãos de Deus. Nada muda a minha crença.


Outra razão para ter entrado na Glória do Ocidente do Brasil, e aqui permanecer, é o fato de que ela não seleciona os ricos para compor os seus quadros de Obreiros. Também não foi criada só para os pobres. Aliás, o critério principal para ser maçom na Obediência é ser uma pessoa de bem. Essa postura, que remonta à sua origem, democratiza o ingresso de pessoas boas, sem olhar o que elas têm. Os elitistas a chamam de “maçonaria de pobres”. Para o maçom bem formado em seus princípios, esse adjetivo, longe de ser uma ofensa, é um reconhecimento à ideologia da Glória do Ocidente. Para escolher os novos Obreiros a Loja não faz a seleção com base no cadastro econômico do candidato.

É importante destacar, nos tempos atuais, o tráfico de influência que coloca maçons em postos importantes com a intenção de desviar recursos públicos para as atividades das Lojas, inclusive na construção de Templos. Na Glória do Ocidente do Brasil os prédios foram construídos com base em uma administração planejada e correta na gestão financeira, economizando nos gastos internos e externos. Por exemplo, fui Grão-Mestre da Glória do Ocidente de Goiás por 11 anos, de 1978 a 1989. Segui passo-a-passo a orientação do Grão-Mestre fundador, Manoel Queiroz Gomes, que construiu o Palácio maçônico de Manaus sem usar dinheiro estranho.
A construção do Palácio Maçônico de Goiânia, no Jardim América, foi possível com o dinheiro de rifas de automóveis (claro, autorizadas pela Receita Federal), festivais de sorvete e uma economia espartana. Naquela época também instalamos uma barraca na exposição agropecuária de Goiânia que resultou em saldo financeiro positivo em três exposições seguidas.
Portanto, o que viabilizou aquela magnífica construção foi a participação dos irmãos das Lojas por meio do trabalho igual e dedicado. Esse planejamento estratégico atraiu centenas de novos maçons. Em pouco tempo passamos, em Goiânia, de três para 11 Lojas. O ritmo de trabalho de construção acelerou: mais obreiros chegaram para ajudar. Com mais gente nas Lojas a balança de realizações pesou mais. E o trabalho harmonioso serviu de atrativo para novas iniciações. A fórmula para a realização desse objetivo foi simples: iniciação, motivação e disciplina. Construímos um belo prédio com amplas instalações sem usar recursos públicos. Entendemos que o dinheiro público deve ter uma destinação mais importante do que construir prédios para a maçonaria.
Recusamos doações públicas ou particulares para a construção, mesmo quando oferecidos por Obreiros ricos. Dois aspectos construtivos e pedagógicos marcaram essa decisão: não comprometemos os princípios da Obediência com os políticos ou doadores particulares. Por outro lado, não manchamos o bom nome da maçonaria com o dinheiro de origem duvidosa.
O que queríamos, e o tivemos, foi o envolvimento de todos num projeto comum: a evolução patrimonial da Glória do Ocidente sem conspurcar a sua história de coerência maçônica.
Assim será.

Doracino Naves

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